Archive for the ‘LIBERDADE DE (DES) CRENÇA’ Category

SAO PAULO, 27 Mar (Reuters) – A Justiça Federal declarou inválida a licença de instalação da usina hidrelétrica Teles Pires expedida pelo Ibama, e suspendeu as obras do empreendimento, em especial as detonações de rochas naturais na região do Salto Sete Quedas, segundo a decisão ocorrida na segunda-feira.

A suspensão atendeu ao pedido do Ministério Público, que alegou que o Ibama emitiu as licenças prévia e de instalação do empreendimento “sem consulta livre, prévia e informada aos povos indígenas”. Além disso, o MP alega que a obra viola áreas consideradas sagradas para os povos indígenas.

Na decisão, a juíza substituta da 2a Vara Federal de Mato Grosso, Célia Regina Ody Bernardes, fixou multa diária de 100 mil reais pelo descumprimento da suspensão das obras.

O Consórcio Teles Pires já foi notificado e disse que vai recorrer da decisão, segundo a assessoria de imprensa do grupo, composto por Neonergia (50,1 por cento), Eletrosul (24,5 por cento), Furnas (24,5 por cento) e Odebrecht (0,9 por cento).

A empresa ressaltou que foram realizados vários encontros com lideranças indígenas de várias etnias, a fim de preservar locais históricos das comunidades da região e o respeito aos aspectos culturais e religiosos dos povos.

“A manutenção desta decisão judicial coloca em risco o emprego de cerca de 2.300 trabalhadores alocados para instalação do empreendimento, a suspensão de outros contratos com fornecedores de bens e serviços, além da interrupção de todos programas ambientais e sociais”, disse o consórcio em comunicado.

O Ibama informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que recebeu a notificação nesta terça-feira. Além disso, o órgão ambiental está analisando as alegações do processo e estudando as medidas jurídicas cabíveis.

A usina Teles Pires terá 1.820 megawatts (MW) e está incluído no Programa de Aceleracao do Crescimento (PAC).

Autor: (Por Anna Flávia Rochas; com reportagem adicional de Leonardo Goy, em Brasília, e Fábio Couto, no Rio de Janeiro)

 

O Supremo Tribunal e o parlamento israelenses sufragaram, na semana passada, duas leis cujo objetivo é consolidar o Estado racista antidemocrático. Comunistas e democratas estão na primeira linha da luta.

 

 protesto em israelCentenas de pessoas juntaram-se no centro da capital para protestar

A norma que proíbe o reagrupamento familiar dos palestinos casados com árabes israelenses foi ratificada pelo Supremo Tribunal, quarta-feira (11). O órgão judicial rejeitou um apelo subscrito por organizações de defesa dos direitos humanos para que a instância impedisse a renovação da referida lei, aprovada em 2003.

“Israel define-se como um Estado judaico e democrático. Pela primeira vez o Supremo Tribunal privilegiou o caráter judaico em detrimento do caráter democrático”, considerou o comentarista jurídico da rádio pública, Moshé Negbi, citado pela Lusa.

No mesmo sentido, uma das subscritoras da proposta, a deputada Zeava Galon, qualificou o texto como “discriminatório” que “diz aos árabes israelenses que querem casar com um ou uma palestina, que apenas têm de partir”.

“O Supremo Tribunal falhou no dever de defesa do princípio da igualdade de todos os cidadãos perante a lei e de luta contra o racismo, cedeu às pressões da maioria de direita no parlamento”, acrescentou.

Em Israel, 20 por cento da população é de origem árabe, por isso, para a Associação Judicial Árabe-Israelita a lei “priva os cidadãos de uma vida familiar em Israel apenas com base na etnia ou nacionalidade do cônjuge”.

“O Supremo Tribunal aprovou uma lei sem equivalente em qualquer Estado democrático no mundo”, concluiu a organização.

O próprio ministro do Interior israelense admitiu o caráter abertamente racista da norma, quando, ao reagir à decisão do Supremo, disse que para além da “segurança” estava em causa a questão demográfica de “não pôr em risco a maioria judaica no Estado de Israel”.

Comunistas na luta

Da parte da coligação política Hadash, o seu secretário-geral e membro do Partido Comunista de Israel (PC de Israel), Muhammad Barakeh, considerou o caso um episódio negro na história de Israel e na defesa dos direitos humanos.

Anteriormente, o parlamento israelense (knesset) aprovou outra lei cujo conteúdo traduz igualmente a consolidação de um Estado racista antidemocrático. A chamada “lei do infiltrado” permite a detenção, sem qualquer acusação formal, de trabalhadores e candidatos a asilo político que passem ilegalmente as fronteiras de Israel, explica o PC de Israel numa nota publicada no seu site.

Para além disso, agrava as penas por crimes menores, as quais podem ir de três anos de cadeia efetiva até a prisão perpétua.

Também os cidadãos que ajudem qualquer trabalhador ilegal ou exilado enfrentam sanções entre os cinco e os 15 anos.

Mal o knesset aprovou a lei, centenas de pessoas juntaram-se no centro da capital, Tel Aviv, para protestar contra esta nova emenda a uma norma de 1954, cujo objetivo era impedir que os refugiados palestinos entrassem em Israel.

Na iniciativa promovida pelo Hadash, pelo PC de Israel e por organizações de defesa da liberdade, da democracia e dos direitos humanos, pelo menos cinco pessoas acabaram detidas.

Fonte: Avante! via Portal Vermelho


CARACAS, 16 SET (ANSA) – O governo da Venezuela pediu aos Estados Unidos que acabem com “sua campanha de mentiras e agressões” após rechaçar um boletim do Departamento de Estado norte-americano que questionava a situação da liberdade religiosa no país latino-americano.

O ministério de Relações Exteriores venezuelano enfatizou, por meio de um comunicado oficial divulgado ontem, que “nega, rechaça e contradiz estas calúnias” divulgadas em um “informe unilateral sobre os direitos humanos”.

A Chancelaria afirmou que a atitude dos Estados Unidos faz parte de “sua política imperialista de desenvolver um inimigo” que “justifique seus ímpetos neocolonizadores” que já produziram outras transgressões aos direitos humanos.

“O mundo é testemunha da harmoniosa convivência entre culturas e religiões que existe no território da República Bolivariana da Venezuela, característica que é reconhecida e exaltada por todos os cultos e confissões” praticados no país, destacou o texto oficial.

Ainda segundo o comunicado, “as múltiplas manifestações que têm sido realizadas pelos mais diversos cultos venezuelanos visando a recuperação da saúde do presidente [Hugo] Chávez desmentem por si só qualquer intriga que pretendem disseminar a este respeito”.

A Chancelaria destacou que “o Estado venezuelano e suas instituições não somente são respeitadoras da liberdade de culto, como se esforçam habitualmente em promover a participação de todas as confissões [religiosas] em diversos atos públicos e consultas legislativas”.

Cerca de 94,3% dos venezuelanos são cristãos, sendo que 85% deles se declaram católicos e 10,7% seguem outras denominações enquanto 1,4% diz ter dupla filiação religiosa. (ANSA

 

Fernando* estava na aula de artes e tinha acabado de terminar uma maquete sobre as pirâmides do Egito. Conversava com os amigos quando foi expulso da sala aos gritos de “demônio” e “filho do capeta”. Não tinha desrespeitado a professora nem deixado de fazer alguma tarefa. Seu pecado foi usar colares de contas por debaixo do uniforme, símbolos da sua religião, o candomblé. O fato de o menino, com então 13 anos, manifestar-se abertamente sobre sua crença provocou a ira de uma professora de português que era evangélica. Depois do episódio, ela proibiu Fernando de assistir às suas aulas e orientou outros alunos para que não falassem mais com o colega. O menino, aos poucos, perdeu a vontade de ir à escola. Naquele ano, ele foi reprovado e teve que mudar de colégio.
Quem conta a história é a mãe de Fernando, Andrea Ramito, que trabalha como caixa em uma loja. Segundo ela, o episódio modificou a personalidade do filho e deixou marcas também na trajetória escolar. “A autoestima ficou muito baixa, ele fez tratamento com psicólogo e queria se matar. Foi lastimável ver um filho sendo agredido verbalmente, fisicamente, sem você poder fazer nada. Mas o maior prejudicado foi ele que ficou muito revoltado e é assim até hoje”, diz.
Antes de levar o caso à Justiça, Andréa tentou resolver a situação ainda na escola, mas, segundo ela, a direção foi omissa em relação ao comportamento da professora. A mãe, então, decidiu procurar uma delegacia para registrar um boletim de ocorrência contra a docente. O caso aguarda julgamento no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Se for condenada, o mais provável é que a professora tenha a pena revertida em prestação de serviços à comunidade.
Já a Fundação de  Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro (Faetec), responsável pela unidade, abriu uma sindicância administrativa para avaliar o ocorrido, mas a investigação ainda não foi concluída. Por essa razão, a professora – que é servidora pública – ainda faz parte do quadro da instituição, “respeitando o amplo direito de defesa das partes envolvidas e o Estatuto dos Funcionários Públicos do Estado do Rio de Janeiro”, segundo nota enviada pelo órgão. A assessoria não informou, entretanto, se ela está trabalhando em sala de aula.
A história do estudante Fernando, atualmente com 16 anos, não é um fato isolado. A pesquisadora Denise Carrera conheceu casos parecidos de intolerância religiosa em escolas de pelo menos três estados – Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. A investigação será incluída em um relatório sobre educação e racismo no Brasil, ainda em fase de finalização.
“O que a gente observou é que a intolerância religiosa no Brasil se manifesta principalmente contra as pessoas vinculadas às religiões de matriz africana. Dessa forma, a gente entende que o problema está muito ligado ao desafio do enfrentamento do racismo, já que essas religiões historicamente foram demonizadas”, explica Denise, ligada à Plataforma de Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (Dhesca Brasil), que reúne movimentos e organizações da sociedade civil.
Denise e sua equipe visitaram escolas de Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. Ouviram de famílias, professores e entidades religiosas casos que vão desde humilhação até violência física contra alunos de determinadas religiões. E, muitas vezes, o agressor era um educador ou membro da equipe escolar.
“A gente observa um crescimento do número de professores ligados a determinadas denominações neopentecostais que compreendem que o seu fazer profissional deve ser um desdobramento do seu vínculo religioso. Ou seja, ele pensa o fazer profissional como parte da doutrinação, nessa perspectiva do proselitismo”, aponta a pesquisadora.
Alunos que são discriminados dentro da escola, por motivos religiosos, culturais ou sociais, têm o processo de aprendizagem comprometido. “Afeta a construção da autoestima positiva no ambiente escolar e isso mina o processo de aprendizagem porque ele se alimenta da afetividade, da capacidade de se reconhecer como alguém respeitado em um grupo. E, na medida em que você recebe tantos sinais de que sua crença religiosa é negativa e só faz o mal, essa autoafirmação fica muito difícil”, acredita Denise.
Para ela, a religião está presente na escola não só na disciplina de ensino religioso. “Há aqueles colégios em que se reza o Pai-Nosso na entrada, que param para fazer determinados rituais, cantar músicas religiosas. Criticamos isso no nosso relatório porque entendemos que a escola deve se constituir como um espaço laico que respeite a liberdade religiosa, mas não que propague um determinado credo ou constranja aqueles que não têm vínculo religioso algum”, diz.
*o nome foi alterado em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Edição: Juliana Andrade e Lílian Beraldo
Texto publicado originalmente no blog Maria da Penha Neles !

No interior de São Paulo Vereadores passam por cima da Constituição que garante aos brasileiros liberdade religiosa e aprovou por unanimidade uma lei proibindo a prática do candomblé, religião essa que é brasileira por criação. Lá em Piracicaba/SP os seguidores desta religião terão que ir a outro município para professar sua fé ou pagarão multa no valor de R$ 2.000,00 e R$ 4.000,00 se houver reincidência. Vereadores de vários partidos se sentiram a vontade para aprovar esta lei sob o comando do prefeito psdbista Barjas Negri.

A Câmara Municipal de Piracicaba/SP, por unanimidade, com o apoio dos vereadores dos seguintes partidos: PT, PDT, PP, PPS, PTB,PR, PMDB, PRB, PSDB, aprovou em 7/10, o PL 202/2010 do vereador Laércio Trevisan (PR).
Comentários em Piracicaba, informam que o referido PL. é parte de um MOVIMENTO chamado “ALIANÇA PARA A SUPREMACIA CRISTÓ, que tem por objetivo levar este projeto a outras cidades do Estado de São Paulo, depois, independente de quem seja eleito, encaminhar para a Câmara dos Deputados, através de deputados federais dos partidos envolvidos. Estes deputados, no momento, são mantidos no anonimato.

Íntegra do PL. 202/2010: PROJETO DE LEI Nº 202/10 – Proíbe o uso e o sacrifício de animais em práticas de rituais religiosos no Município de Piracicaba e dá outras providências.

Art. 1º Fica proibido o sacrifício de animais em práticas de rituais religiosos no Município de Piracicaba.

Art. 2º O descumprimento do disposto na presente Lei ensejará ao infrator, a multa de R$ 2.000,00 (dois mil reais) dobrado a cada reincidência.

Parágrafo único A multa a que se refere o caput deste artigo será reajustada, anualmente, com base no índice do INPC – IBGE , adotada pelo Poder Executivo através de Lei.

Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação

 

         A vitória de Dilma não só representa um fato histórico na política brasileira, mas a vontade de um povo em continuar as mudanças implementadas no governo do Presidente Lula.  Lula que chegou ao governo sobre as asas de uma trajetória de vida na qual poucos acreditaram e se tornou o brasileiro mais famoso da história.

         O povo barrou o retrocesso político ao eleger a primeira mulher para governar o nosso país. Mais uma vez – esse povo – disse NÃO ao projeto político de um grupo que depredaram, saquearam e venderam o nosso patrimônio, e tentavam voltar – disfarçadamente – para acabar com o resto das nossas riquezas nacionais, mas esse mal foi afastado democraticamente.

         A campanha do candidato derrotado teve como ponto central o ódio e a mentira. Como não tinha proposta e tampouco um programa de avanço social e econômico que pudesse sobrepor as conquistas do Governo Lula, sem rumo, apelou para o estilo mais baixo que pode existir no embate político, qual seja a baixaria, e a partir daí passou a propagar o ódio e acusar a candidata Dilma de intolerante quanto à religião e de terrorista.  

A direita raivosa assumiu o comando da campanha de Serra, cujas informações eram obtidas por meio do consórcio midiático: Folha de São Paulo, Estadão, o Globo, a Globo, a Época, Veja. Esses órgãos da imprensa nativa sedimentados no eixo Rio-São Paulo, que representam uma parte das elites paulista e carioca, sobretudo a paulista, que odeia o nordestino, e que há muito tempo tentam pautar os destinos do país foram desmoralizados. Não forma mais opinião. O povo se libertou dessa matula de jornais e revistas que prestam um desserviço à nação. Ou seja, a manipulação desinformativa sobre a candidata Dilma, desequilibrando a disputa em favor do candidato Serra foi vergonhosa. A sociedade política sempre espera uma mídia que tivesse o dever de zelar pela imparcialidade da notícia e não ser vanguarda de uma candidatura em detrimento de outra.  

A liberdade de imprensa deve ser preservada em todo sentido. Entretanto, não pode ser um passaporte para a irresponsabilidade com a notícia e a informação. A mentira, a falsidade, a difamação, a calúnia e a distorção dos fatos são atentados à democracia e ao estado democrático de direito. Ferir esses direitos é ir de encontro aos princípios que norteiam a Constituição da República. O que se presenciou nessas eleições foi um desrespeito ao eleitor em razão da falta de isonomia de como os fatos eram noticiados. Houve um abuso sem precedência na mídia brasileira, jamais se viu tamanha desfaçatez para favorecer o candidato derrotado. Esses abutres da imprensa tentaram subtrair a consciência livre do povo. Não obstante, o povo deu uma resposta a altura que mereciam, elegendo Dilma, quer dizer: a fúria da mídia foi combatida com a fúria humilde e silenciosa do povo. Povo que fez opção pela continuidade de um Governo que está dando certo, avançando nos projetos econômicos, sociais e culturais. Esses avanços não poderiam ser interrompidos por um ideário político que não tem sentimento social, haja vista que ficaram oito anos no poder e não responderam ao anseio popular.

A vitória de Dilma frise-se, é o coroamento de um Presidente de origem humilde, que conseguiu quebrar barreiras até então intransponíveis. Lula rompeu o cerco arquitetado por essa elite perversa, atrasada e inconseqüente. Deu dignidade e autoestima às pessoas. Portanto, essa vitória tem um significado extraordinário para ele. Nesses oito anos de governo sofreu os mais odiosos preconceitos e aí está a resposta aos seus áulicos algozes que à espreita o aguardava para derrubá-lo. O povo respondeu ao chamado do seu líder maior, e disse NÃO aos saudosistas do regime totalitário, representados, sobretudo, nas famílias Frias, Mesquita, Civita e Marinho.

A elite e alguns párias sociais e políticos não aceitam, não admitem e tampouco toleram o maior Presidente que este país já teve, porque queria um Lula como o negrinho do pastoreio obrigado a abaixar a cabeça quando ameaçado pelo chicote de couro.

Em 2002 a esperança venceu o medo. Em 2010 a verdade venceu o ódio,  a mentira e farsa. A tentativa de frear a marcha das mudanças que o Brasil está experimentado restou frustrada. O povo repudiou a elite, a extrema direita e mídia conservadora.

Viva Dilma! Viva Lula! Viva o Povo! Viva a Democracia! Viva a verdade! Viva o Brasil.

 

ANTONIO EDMILSON CRUZ CARINHANHA – ADVOGADO

Na foto, José Serra, o herói da Direita Cristã

Numa entrevista ao Caderno ‘Sexta-Feira e Fim de Semana’, do jornal Valor Econômico, o professor e filósofo Vladimir Safatle, da USP, mostrou de forma brilhante o sinistro legado que José Serra deixou para a política brasileira: a criação de uma corrente de diretia radical que, nos EUA, se chama de Direita Cristã e, no momento, paralisa o sistema político americano com o movimento Tea Party.

O sinistro do legado da campanha calhorda – como diria o Ciro Gomes – do aborto é, segundo o Safatle, que Serra destampou um monstro que a habilidade política brasileira escondia no armário.

Irresponsavelmente, Serra abriu o armário e trouxe esse segmento político para a cena brasileira e, de lá, ela não vai sair.

Serra fez o papel que George Bush desempenhou nos EUA: transformou cristãos católicos de direta em personagens irremovíveis do sistema político.

É isso o que ele representa.

É essa a sua única obra.

Leia o professor Safatle:

A candidatura Serra, durante todo o primeiro turno, nunca empolgou eleitoralmente. Não cresceu. Começou a crescer de verdade quando o Serra resolveu flertar com setores conservadores da sociedade brasileira, ou seja, os setores mais conservadores da igreja – teve votação expressiva no chamado cinturão do agronegócio – e também com a fina flor do pensamento conservador. Isso poderia parecer uma estratégia eleitoral. De fato, mostrou uma coisa que a gente não sabia: existe um pensamento conservador forte no Brasil e esse pensamento tem voto. Pode ser mobilizado por questões relativas à modernização dos costumes. Um exemplo, ainda no governo Fernando Henrique, quando José Gregori era secretário dos Direitos Humanos, aprovaram o PNDH 2 [Programa Nacional de Direitos Humanos], em 2002. E se você for ver, por exemplo, no capítulo sobre o aborto, ele é idêntico, fora uma ou duas palavras, ao PNDH 3, que foi criticado durante a campanha eleitoral. Parece que foi um processo deliberado, problemático, que coloca questões sobre o que vai ser sua candidatura daqui para a frente. Terminou prometendo que seria contra a lei da homofobia em encontro com pastores evangélicos. Com isso, Serra destampou uma franja eleitoral que estará presente no debate nos próximos quatro anos. Esse tipo de pauta não vai desaparecer. Vai voltar em vários momentos. A primeira questão é saber como isso vai se configurar. Até porque existe uma tendência mundial de construir um pensamento conservador que tem forte densidade eleitoral. A gente vê isso nos EUA, na Europa, e vai ver no Brasil de uma maneira ou de outra.

– A questão do aborto foi um dos pontos mais baixos da história recente da política brasileira. Discordo terminantemente de que tenha sido um movimento espontâneo da sociedade civil. Ao que tudo indica, e a própria imprensa investigou isso, o candidato da oposição disparou por meio da central de boatos da internet toda essa questão. Existia um acordo tácito entre os dois grandes partidos políticos brasileiros, PT e PSDB, de que essa questão não seria posta em debate, porque vem de aspectos dos mais arcaicos da sociedade brasileira, e nenhum dos partidos queria jogar isso contra o outro justamente por esse arcaísmo. Quando o papa João Paulo II veio ao Brasil, houve um desconforto porque Ruth Cardoso [ex-primeira-dama] tinha se declarado a favor da legalização do aborto. E de repente temos a mulher do candidato da oposição [Monica Serra] dizendo que Dilma é a favor de matar criancinhas!
– De fato meu lado perdeu, com muita clareza. Não sou filiado ao PT nem a partido algum. Todos aqueles para quem a modernização dos costumes é fundamental no interior do desenvolvimento das sociedades democráticas perderam. Não foi simplesmente uma questão ligada ao aborto. Foi uma maneira que o pensamento conservador encontrou de pautar a agenda do debate político neste país. Mostraram que têm força, têm voto e conseguem bloquear a discussão. E agora não vão sair, vão ficar. Havia uma espécie de ilusão de que não havia espaço para um partido que conseguisse mobilizar o pensamento conservador no Brasil. Isso não é verdade, eles demonstraram que têm força. Quando Serra colocou essa questão no debate, com clareza e todas as palavras, cobrando da adversária que ela se posicionasse, ele criou uma situação que, daqui por diante, é uma questão da política brasileira e todos vão ter de se posicionar a respeito.

Do: www.paulohenriqueamorim.com.br

Daniel Piza – O Estado de S.Paulo

Um leitor, Kenny, me manda email sobre a questão da religião. Está atormentado pelo fato de se dizer um agnóstico e viver em meio a pessoas religiosas, que não entendem que ele não consiga “acreditar que após a morte iremos para outro lugar ou que existe Alguém olhando por nós o tempo todo”. E sente culpa, já que cresceu ouvindo que existe “um Deus misericordioso que tudo há de prover” e às vezes se pega agradecendo a Ele pelo bom dia que teve. Pergunta por minha experiência e qual a diferença entre ateu e agnóstico, pois reluta em se dizer ateu porque seria visto com ainda mais desconfiança e discriminação. Num momento em que a religião foi enfiada na pauta eleitoral por setores organizados da sociedade, a dúvida de Kenny vem a propósito.

Quem criou o termo “agnóstico” foi um autor pouquíssimo lido no Brasil, Thomas Huxley, biólogo e polemista que defendeu as ideias de Darwin do escândalo clerical. Num ensaio de 1889, Agnosticism, contou que o criou para se contrapor aos que diziam ter o conhecimento (gnose) do invisível, do sobrenatural, das entidades espirituais. Incluiu nesse grupo os ateus ou, como se dizia então, os ateístas, porque muitos deles igualmente afirmavam ter “resolvido os problemas da existência”, ou seja, ter prova da inexistência de Deus. Huxley, no entanto, não conseguiu se livrar da voracidade cristã e foi chamado de infiel, descrente, um imoral a caminho do inferno. De nada adiantou esclarecer que era um livre-pensador; seu nome entrou no índex.

Desde então, o termo “agnóstico”, como antes “ateu”, sofreu modificações. Foi atenuado para algo como “não sei se Deus existe”, o que normalmente é seguido por algo como “acho que existe uma força superior” ou, no caso de Kenny, “sinto culpa por isso”. Mas Huxley, um estilista admirável, deixou bem claro: o agnosticismo tem como princípio o de que “é errado para um homem dizer que tem certeza da verdade objetiva de qualquer proposição a menos que possa produzir evidência que logicamente justifique essa certeza”. Ou seja, Huxley era contra a suposição de que ter fé é acreditar na veracidade do inacreditável. Seus adversários eram aqueles que estavam seguros, por exemplo, de que demônios existem e tomam posse das pessoas, como as mulheres que eram perseguidas como bruxas; ou de que Jesus fez tudo que os Evangelhos dizem que fez, apesar de todas as contradições. O problema não era crer nisso; era crer que existiam provas irrefutáveis disso.

O agnóstico, em suma, não é o sujeito que vota em branco, mas o que tem a opinião ainda controversa de que não existem fenômenos sobrenaturais, apenas fenômenos que não temos condições de explicar. Eu, como Huxley, fui criado numa cultura cristã; meus pais acreditam em Deus e me fizeram fazer a primeira comunhão aos 10 anos; mas, por meio de dúvidas próprias e de leituras científicas, optei por não ter nenhuma religião, por não acreditar em vida pós-morte e num ser que tudo fez e comanda – assim como optei por viver sem vícios e superstições, por não levar a sério o que não me pareça ter consistência lógica como astrologia, numerologia e tudo o mais. Huxley: “As pessoas que falam nos confortos da crença esquecem seus desconfortos.” Nenhum familiar ou amigo nunca me atormentou por isso e não sinto a menor culpa; mais que muitos religiosos, tento respeitar e ajudar o próximo, tolerando todas as diferenças e abominando todas as guerras, santas ou não.

Ao contrário de um Richard Dawkins, não quero converter ninguém à crença na descrença. Conheço muitas pessoas cuja religiosidade não tem nada a ver com fanatismo ou aversão à ciência. Por que eu ia querer convencê-las a mudar de opinião? Mas, como Huxley, não quero crer no que não me parece provável – e defendo esse direito até onde for necessário. E esse direito é mais combatido, veladamente na maioria dos casos, do que supõe nossa vã cultura. Vivemos num estado laico, mas toda repartição pública tem uma cruz e até o papa ordena aos bispos que interfiram nas eleições locais. Espiritistas afirmam ter evidências da reencarnação e da existência de miasmas onde as almas sobrevivem. Nos cultos evangélicos, não crer em Deus é, como disse Huxley, uma ofensa moral. O aborto, mesmo até três meses, é tratado como se fosse assassinato, embora seja legal em diversos países e lá praticado por muitos religiosos. No Brasil, onde até CAMISINHA é pecado, nem sequer se ouve a pergunta humanista: deve-se pôr no mundo uma criança de quem não se pode cuidar dignamente?

E meu email, toda vez que toco no assunto, se entope de leitores jurando que à beira da morte vou me arrepender e buscar o consolo – ao contrário do que fez um Machado de Assis, embora os estudiosos não deem ênfase à sua anti-religiosidade. Mas espero que ao menos Kenny se sinta livre para crer ou descrer e assumir sua posição, com o nome que for, em vez de se sentir culpado por não pensar como os que o cercam. Não é a religião que deve ser cercada; é a liberdade que não deve ser.

Por que não me ufano. Por falar em crença no improvável, onde estão os cientistas políticos que demonstravam por A + B que uma pessoa jamais eleita não o seria agora? E os que juravam que a mera existência do segundo turno levaria a uma virada? Eu sei: estão fingindo que não o disseram. E o disseram não por razões lógicas, mas por desejos disfarçados